Breve histórico sobre o desenvolvimento de cultivares de café arábica no Brasil
A primeira cultivar de café arábica plantada no Brasil foi a Typica, introduzida no país em 1727 e cultivada por mais de 1 século por produtores brasileiros com os nomes de café nacional, arábica e crioulo. Em 1859, foi importada da ilha Bourbon, atualmente ilha Reunião, a cultivar Bourbon Vermelho e, em 1896, foi trazida da Indonésia a ‘Sumatra’, uma seleção de ‘Typica’.
Em 1932, iniciou-se no Instituto Agronômico (IAC) o programa de melhora- mento genético do cafeeiro. Nessa década, foram identificadas plantas de porte baixo em uma lavoura de ‘Bourbon Vermelho’ localizada na Serra do Caparaó, na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, dando origem a cultivar Caturra. Em meados dos anos 1940, foi criada pelo IAC a ‘Bourbon Amarelo’, provavelmente originária de mutação da ‘Bourbon Vermelho’ ou como produto do cruzamento espontâneo entre ‘Amarelo de Botucatu’ (derivada de ‘Typica’) e ‘Bourbon Vermelho’ e, ao final da década de 1940, foi iniciado, também pelo IAC, o desenvolvimento da cultivar Mundo Novo, disponibilizada para cultivo comercial em 1952. Do cruzamento entre ‘Mundo Novo’ e ‘Caturra’, realizado em 1949, foi criada a ‘Catuaí’, com o lan- çamento pelo IAC de várias cultivares de frutos amarelos ou vermelhos a par- tir de 1972. Durante a década de 1950, foi desenvolvida a ‘Icatu’, um híbrido entre as espécies Coffea arabica e C. canephora com resistência à ferrugem, o qual foi retrocruzado com cultivares de C. arabica, como a Mundo Novo e a Catuaí, dando origem a várias cultivares, sendo as mais conhecidas: Icatu IAC 4045, Icatu IAC 2944 e Icatu Precoce IAC 3282.
Após a disseminação da ferrugem do cafeeiro no Brasil, no início dos anos 1970, várias instituições de pesquisa e ensino iniciaram programas de melhora- mento genético, visando desenvolver cultivares resistentes à ferrugem. Houve então o desenvolvimento de dezenas de novas cultivares, cuja resistência à ferrugem é oriunda, principalmente, de plantas do germoplasma Híbrido de Timor, de hibridação espontânea entre as espécies C. arabica e C. canephora, encontrado no Timor Leste, com prováveis retrocruzamentos espontâneos com C. arabica. Uma planta do Híbrido de Timor denominada de CIFC 832/1, foi cru- zada no Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), localizado em Oeiras, Portugal, com a cultivar Caturra e outra planta, a CIFC 832/2, com a ‘Villa Sarchi’. As plantas desenvolvidas a partir do cruzamento com ‘Caturra’ são denominadas genericamente de Catimor e as derivadas do cruzamento com ‘Villa Sarchi’, de Sarchimor. Outras plantas do Híbrido de Timor foram cru- zadas com ‘Catuaí’ e as progênies usadas para a criação de novas cultivares. Cultivares com resistência à ferrugem foram também desenvolvidas a partir do aproveitamento de um cruzamento natural entre ‘Icatu’ e ‘Catuaí’ e, mais recen- temente, a partir de cruzamentos com o germoplasma BA10, que é resultado do cruzamento entre C. arabica e C. liberica, obtido da Índia.
É comum referir-se a uma cultivar como sendo pertencente a um determinado grupo. O grupo é formado por cultivares que possuem a mesma origem genética, ou seja, o primeiro cruzamento usado para o desenvolvimento da cultivar. Por exemplo, o grupo Catuaí é formado pelas cultivares oriundas do cruzamento entre ‘Mundo Novo’ e ‘Caturra’. A Tabela 1 apresenta os grupos mais comuns.
Tabela 1. Grupos mais comuns de cultivares de café.
A maioria das novas cultivares desenvolvidas após 1970 possuem diferentes níveis de resistência à ferrugem. Algumas exibem também resistência a outras doenças, como mancha de Phoma e mancha-aureolada (Pseudomonas syringae pv. garcae); a nematoides das espécies Meloidogyne exigua, M. paranaensis e M. incognita; tolerância a estresses abióticos (como calor e falta de água); e resistência ao bicho-mineiro.
Nos últimos anos, os programas de melhoramento genético têm concentrado esforços para o desenvolvimento de cultivares que reúnem características de grande interesse agronômico, como resistência múltipla a doenças e a nematoides, alta produtividade, elevado vigor vegetativo, longevidade de produção, uniformidade de maturação e qualidade de bebida especial.