Fichas técnicas das cultivares
A seguir, serão apresentados os conceitos e os critérios utilizados para descrever e quantificar as principais características agronômicas e tecnológicas das cultivares de café. As características produtividade, porte, diâmetro da copa, vigor vegetativo, época de maturação, tamanho da semente e tolerância a déficit hídrico foram apresentadas de modo comparativo, tomando-se como referência a cultivar Catuaí, por ser mais conhecida.
As principais características e informações, ou seja, uma ficha técnica de cada cultivar, são apresentadas ao final desta seção.
Porte (altura da planta)
O porte da planta depende da interação entre as características genéticas e o ambiente de cultivo. Consequentemente, a altura da planta vai variar de acordo com o clima, espaçamento e tratos culturais. De modo prático, a grande maioria das cultivares pode ser classificada em apenas duas categorias: de porte alto ou de porte baixo. Para as cultivares brasileiras, o porte é geralmente governado pelo gene caturra, proveniente das cultivares Caturra e Villa Sarchi, de porte baixo. O porte baixo é determinado pelo alelo dominante Ct, assim plantas CtCt ou Ctct, como as da cultivar Catuaí, têm porte baixo e plantas ctct, como as da ‘Mundo Novo’, porte alto. Devido à interação dos alelos Ct ou ct com genes de efeito secundário, o cafeeiro pode ficar mais baixo ou mais alto, resultando em variações de altura dentro das cultivares de porte baixo e alto. No entanto, neste catálogo, as cultivares serão classificadas somente como de porte baixo ou alto.
Diâmetro da copa
A escolha do espaçamento entre plantas e, principalmente, entre as linhas de plantio, depende grandemente do diâmetro da copa das plantas. Plantas com copas maiores vão exigir espaçamentos entre as linhas mais largos ou podas mais frequentes, para não dificultar a circulação de máquinas. A fim de dar uma ideia geral e facilitar a comparação entre cultivares, o diâmetro da copa será classificado somente em três categorias: estreito, como a ‘Siriema AS 1’; médio, como as do grupo Catuaí; e largo como a ‘Mundo Novo IAC 376-4’.
Cor das folhas jovens (cor do broto)
As cores das folhas jovens mais comumente encontradas são verde, bronze e bronze-claro. Essa é uma característica governada por um gene denominado de Bronze, com alelos Br e br. A interação entre Br e br é de dominância incompleta. O genótipo BrBr confere cor bronze; Brbr, bronze-claro e brbr, cor verde.
Cor do fruto maduro
Característica controlada pelo gene Xanthocarpa, com alelos Xc e xc. Plantas com frutos vermelhos são homozigotas dominantes (XcXc), as de frutos amarelos são homozigotas recessivas (xcxc) e as heterozigotas (Xcxc) produzem frutos de cor laranja, pois a dominância de Xc sobre xc é parcial. Algumas cultivares produzem frutos com tonalidade vermelha mais escura, semelhante à cor vinho, provavelmente, devido à ação de genes de efeito secundário sobre o alelo Xc.
Tamanho da semente
A semente (grão) foi classificada em quatro categorias de acordo com o tamanho médio: pequena (‘Sabiá Tardio’, ‘Catiguá MG 2’, ‘Beija Flor’), média (‘Catuaí Vermelho IAC 144’, ‘Mundo Novo IAC 379-19’, ‘IPR 100’), grande (‘Catucaiam 24137’, ‘Arara’, ‘Obatã IAC 1669-20’) e muito grande (‘Maragogipe’).
Época de maturação (época de colheita)
É uma característica governada por vários genes, sendo bastante afetada pelo ambiente de cultivo. Em razão de variar de um ano para outro, a época de maturação foi determinada comparando-se as cultivares, sendo dividida em cinco categorias: precoce (‘Bourbon Amarelo IAC J10’, ‘Catucaí 785- 15’, ‘Siriema AS 1’), entre precoce e média (‘Acaiá IAC 474-19’, ‘Catucaiam 24137’, ‘MGS Paraíso 2’), média (‘Catucaí Amarelo 2SL’, ‘IAC 125 RN’, ‘Mundo Novo IAC 376-4’), entre média e tardia (‘Catuaí Amarelo IAC 62’, ‘Topázio MG 1190’, ‘Catiguá MG2’) e tardia (‘Acauã’, ‘Arara’, ‘IPR 100’).
Resistência à ferrugem
Existem vários critérios para classificar a resistência de uma cultivar à ferrugem, uma doença causada pelo fungo Hemileia vastatrix. Optou-se por uma classificação mais simples e prática, em: suscetível, parcialmente resistente e resistente.
Cultivares suscetíveis sempre vão necessitar de controle químico da ferru- gem, pois a doença pode provocar grande prejuízo econômico. As parcial- mente resistentes também necessitam de controle químico, principalmente em anos de alta carga, mas o controle químico é mais fácil e mais barato que o das suscetíveis, pois pode ser feito com um menor número de aplicações. Nas cultivares resistentes, o fungo não esporula e não há sintomas da doen- ça. Tem-se observado, entretanto, que pulverizações com fungicidas podem aumentar a produtividade das lavouras de cultivares resistentes, por ajudar a controlar outras doenças, por efeito tônico ou estimulador.
Dependendo da população local de raças fisiológicas da ferrugem, cultivares classificadas como resistentes podem manifestar a doença e se comportar como suscetíveis ou parcialmente resistentes.
Resistência a nematoides
A resistência a nematoides foi classificada em dois níveis: suscetível e resistente, para as espécies M. exigua, M. incognita e M. paranaensis. As cultivares classificadas como resistentes podem ser suscetíveis a variantes (raças fisiológicas ou biótipos) existentes dentro de cada espécie desses nematoides.
Resistência a outras doenças
Além da ferrugem, na ficha técnica será também exibida a resistência a outras doenças, como mancha de Phoma (fungo), mancha-aureolada (bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae) e mancha-anular (virose). As cultivares classificadas como resistentes na ficha técnica podem, eventualmente, se comportar como suscetíveis, dependendo da ocorrência de variantes (patovares, raças fisiológicas, estirpes, biotipos) existentes dentro de cada uma das espécies que causam essas doenças. Em alguns casos está descrita a resistência ao bicho-mineiro.
Tolerância a déficit hídrico
Essa é uma informação que, quando pertinente, foi adicionada ao espaço reservado às considerações sobre a cultivar e foi baseada na observação de que determinadas cultivares toleram melhor a falta de água temporária que cultivares tradicionais avaliadas no mesmo local.
Vigor vegetativo
Expressa a exuberância do crescimento vegetativo e a capacidade que a cultivar tem de produzir grande quantidade de frutos, sem sofrer seca de ramos ou morte de raízes. Plantas pouco vigorosas secam ramos em anos de alta produção e podem apresentar depauperamento precoce e baixa longevidade. Em geral, plantas com alto vigor respondem bem à poda. O vigor vegetativo foi expresso em três categorias: baixo (‘Geisha’, ‘Caturra Amarelo IAC 476’, ‘Ibairi IAC 4761’), médio (‘Sabiá Tardio’, ‘Iapar 59’, ‘IAC 125 RN’) e alto (‘Catuaí Amarelo IAC 62’, ‘Mundo Novo IAC 376-4’, ‘Arara’).
Qualidade da bebida
Classificada em duas categorias: regular e diferenciada. As cultivares classificadas como de bebida “diferenciada” foram agrupadas nessa categoria levando-se em conta a análise sensorial de experimentos nos quais as cultivares foram comparadas entre si, resultados de concursos de qualidade de bebida e na percepção geral de que determinadas cultivares possuem bebida de qualidade superior às cultivares dos grupos Catuaí e Mundo Novo. Isso não significa que as cultivares classificadas como de bebida “regular” não possam produzir bebida de excelente qualidade, podendo ser superiores às cultivares classificadas como “diferenciadas”, dependendo das condições ambientais de cultivo, tratos culturais, método de colheita, tipo de processamento, secagem, armazenagem, etc.
Produtividade
Classificada em quatro níveis: baixa (‘Ibairi’, ‘Geisha’, ‘Maragogipe’), média (‘Bourbon Amarelo IAC J10’, ‘Siriema AS 1’, ‘Maracatiá’), alta (‘Catuaí Vermelho IAC 144’, ‘Mundo Novo 376-4’, ‘MGS Paraíso 2’, ‘Catucaí Amarelo 2SL’) e muito alta (‘Arara’, ‘IBC-Palma-3’, ‘Obatã IAC 1669-20’).